CARACTERÍSTICAS DE UMA VERDADEIRA ADORAÇÃO
“Mas vem a hora e já chegou, em
que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque
são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa
que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4.23,24)
Há algumas explicações quanto a escolha de Deus por um povo “...especial, zeloso e de boas obras” (Tt
2.14), entre elas destacamos a Adoração. Ela é uma das funções ou objetivos
tanto de Israel como da Igreja. Jesus destacou a procura do Pai por adoradores,
confrontou Satanás na fidelidade somente a Deus quanto a adoração (cf. Mt 4.10).
A adoração é o meio pelo qual se honra a Deus através de Jesus
Cristo. “É a exaltação do nome, do caráter, dos propósitos e dos feitos do
Altíssimo”[1]. Nela o
homem se completa e se satisfaz, encontrando o propósito de sua existência,
pois através dela o divino e o humano se encontram, porque é no meio dos
louvores que o Senhor habita (cf. Sl 22.3) e é através deles que somos
edificados (ver 1Co 14.15-17).
A adoração pode ser compreendida pela definição do conceito,
analisando a sua aplicação exegética no contexto bíblico; o seu desenvolvimento
através da história; a transição entre Antigo e Novo Testamento e a sua
contemporaneidade.
De forma sintética e objetiva analisamos cada ponto:
I – DEFINIÇÃO
Para o significado etimológico da palavra é preciso lançar mão dos
termos em hebraico e grego (línguas originais do Antigo e Novo Testamento).
Vejamos:
No hebraico, o termo mais comumente usado no Antigo Testamento é “shahah”, que significa prostrar-se,
curvar-se, inclinar-se humildemente perante um monarca reconhecendo sua
soberania[2]. O sentido
é empregado por Abraão (Gn 24.26); pelos salmistas exaltando a soberania de
Deus (Sl 66.4, 95.6). A palavra também é usada por Josué, significando a
prestação de culto somente ao Senhor em contraste com o culto idolátrico (Js 23.7).
No grego do Novo Testamento a palavra correspondente é “proskyneo”, que significa beijar,
agachar-se, prostrar-se em homenagem[3]. Seu
sentido foi utilizado quando Jesus confrontou Satanás (Mt 4.10) e no seu
encontro com a samaritana (Jo 4.23).
Embora algumas outras variações possam surgir na definição dos
termos, o que fica evidente é que tanto no Antigo quanto no Novo Testamento,
adorar ao Senhor é prostrar-se a Ele não apenas oferecendo-lhe culto como uma
liturgia ou ritual, mas homenageando-o, beijando-o com demonstração sincera do
nosso amor e respeito à sua divindade.
II – TRANSIÇÃO ENTRE ANTIGO E NOVO TESTAMENTO
Entre inúmeros deuses e
cultos sistematizados pelo homem através da história, percebemos o anseio, a
sede da alma humana em encontrar o que perdeu, a comunhão com Deus.
Criando muitas formas de adoração, o homem na tentativa de se
relacionar com o divino, de forma paradoxal afastou-se cada vez mais do seu
Criador. Assim sendo, o próprio Deus tomou a iniciativa de escolher um povo,
chamado Israel, para que ensinasse ao mundo a veracidade de um único Senhor,
criador dos céus e da terra, e a necessidade do homem adorá-lo e servi-lo.
No Antigo Testamento, desde a caminhada de Israel no deserto após
o Êxodo, até o seu estabelecimento definitivo na terra de Canaã, encontramos o
aprendizado de uma nação em formação, de como se deve adorar o único e
verdadeiro Deus. Ele próprio os ensina, através dos sacrifícios, do tabernáculo,
do seu código de ética e principalmente de sua Lei.
Passando por vários processos de construção, desconstrução e
reconstrução, Israel aprendeu a valorizar a Adoração a Yahweh, o Senhor que é,
que era e que sempre será. O cativeiro sofrido há décadas, os ensinou que a
adoração a falsos deuses, desagradava completamente ao Senhor, por isso, de
forma disciplinar, eles foram sarados deste mal chamado idolatria.
Mas, com o passar do tempo, incorreram num outro erro, sua
adoração tornou-se vinculada a um sistema religioso que não correspondia com
sua conduta. Criaram-se tantas regras e formalidades que distanciou o homem de
seu Senhor. Fez com que sua adoração tornasse egoísta e ritualista. Como disse
o profeta: “...este povo honra-me com os
lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mc 7.6).
Como sua adoração estava apegada a sua religiosidade, fez-se
necessária a afirmação de Cristo: “...o Pai procura verdadeiros adoradores...”,
expressão esta que continua ecoando em nossos dias. Jesus, com seus ensinos e
vida prática, mostrou ao homem que o seu relacionamento com Deus é muito mais
simples do que a complexidade de seus ritos. Enquanto muito se discuti sobre a
diversificação nas formas de se adorar ao Senhor, encontramos nas palavras do
Cristo a essência da Adoração: “...em
espírito e em verdade” (Jo 4.23).
III – A ADORAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE
Não vivemos nos tempos do Antigo Testamento e nem nos primórdios
da Igreja, mas temos um legado que nos foi deixado, a Palavra do Senhor. Ela
nos convoca (Sl 95.6, Ap 15.4). Ela mostra como os verdadeiros adoradores devem
adorar. O primeiro ponto é analisar que o Senhor, antes de qualquer adoração,
procura adoradores, ou seja, verdadeiros adoradores. A palavra usada aqui para
“verdadeiro” no grego do Novo Testamento é “alethinos”,
que é aquele que participa da essência, que não tem apenas o nome. Esses são
aqueles que de fato conhecem a Deus e não são apenas crentes nominais.
A característica principal e essencial de um adorador é conhecer a
Deus, isto só é possível através de Jesus (Cl 1.10-15; 2.6-23).
As características principais e essenciais da Adoração são:
- em espírito. Fala do homem espiritual, aquele que está vivo
espiritualmente (Rm 8.10; 1Co 2.9-16). Contrasta com a religiosidade, e com o
sentimentalismo (Rm 12.1).
- em verdade. Sem falsidade, sem hipocrisia, de coração puro. Verdade
fala de entendimento, convicção, é a excelência pessoal em contraste com a
obrigatoriedade desta ou daquela tradição.
Por Cleverson Martins de Souza